quinta-feira, 27 de março de 2014

O Cavalo de sela Internacional X O Cavalo de Sela Brasileiro

Desde que entrei na raça sempre me interessei muito em ler e conversar com os criadores e técnicos mais antigos, em pouco mais de 5 anos posso garantir que já exauri a nossa biblioteca disponível na ABCCRM e a paciência de quase todos as técnicos e juízes de nossa raça. De modo que vou poupar esforços aos mais novos! A cartilha é padrão e bem fácil de resumir: O Mangalarga é um cavalo de sela “internacional” e a descrição desse padrão é repetida sem alterações, sequer linguísticas, de modo bastante ensaiado. Eumétrico, mediolíneo, conjunto de frente leve, garupa e membros fortes, etc. Diz ainda, o cavalo deve ser olhado de baixo para cima! Cascos e membros são importantíssimos! Por ai vai... De fato, academicamente falando, essas diretrizes são inegáveis, no entanto, agora que estou começando a avaliar meus primeiros exemplares na sela, tem algo que me incomoda muito em tudo isso: Quem garante que toda essa cartilha escrita nos livros, decorada por técnicos e julgada nas exposições e registros dos nossos animais, por si só, funciona?! Quem garante que o animal que se enquadra nela DESEMPENHA melhor do que o outro? Xenofonte? Sinto como se estivéssemos construindo uma casa pelo telhado! Ou pelos acabamentos! Zootecnicamente a função determina a forma, mas qual avaliação funcional estamos aplicando a tropa? Quando uma pessoa procura um cavalo de curral e provas, vai atrás da ABQM, quando quer um animal de adestramento talvez procure o Lusitano, se gostar de corridas com certeza deve comprar um PSI, e o Mangalarga? Qual sua função característica? Qual prova o define? QUAL A SUA IDENTIDADE? Enquanto raças igualmente jovens e desenvolvidas no Brasil como o Crioulo aprimoram cada vez mais suas técnicas de avalição e seleção com o Freio de Ouro e as Provas de Marcha de Resistência, continuamos discutindo as angulações de jarretes como denominador do melhor cavalo de sela do Brasil. Penso que o Mangalarga é um marchador de sela esportivo! Um “Hunter Caipira” como dizem os Junqueiras! É uma animal que deve aguentar trabalho e deve carregar de maneira confortável e habilidosa cavaleiros exigentes mas deve ser um cavalo para ser montado por todo aquele que queira e não só por equitadores ou peões fisicamente preparados. O Mangalarga é o generalista mais cômodo e apaixonante do mundo! É isso que me encantou na minha primeira cavalgada em 2005 quando sai de Campos do Jordão – SP com destino a Parati – RJ. Foram 5 dias e descobri que o mundo em um Mangalarga era muito maior do que a hípica onde montava os especializados Warmbloods europeus e que o cavalo era uma maquina de trabalho e um companheiro muito mais fortes e prestativos do que jamais sonhei. Nunca tinha conhecido um animal com tamanho caráter e inteligência como é o Mangalarga, e não trotava. Foi Paixão a primeira montada!!! De modo que deixo as perguntas: • Será que não está na hora de começarmos a escolher os melhores exemplares da raça pelo seu DESEMPENHO e não somente pelo seu enquadramento morfológico. • Será que não está na hora de começarmos, ao invés de estudar a cartilha europeia de hipologia, começarmos a escrever e avaliar a cartilha do Mangalarga “O Cavalo de Sela Brasileiro” com suas peculiaridades e identidades próprias. CRIAR NOSSA IDENTIDADE!!! De uma coisa tenho certeza, estrada a fora em cima da sela, somos incomparáveis!!! Luiz Alberto Patriota de Araujo Costa Sócio 07646