quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Carta Sugestão ABCCRM


São Paulo, 5 de maio de 2008

Ao Sr. Presidente Mario Barbosa, á Diretoria e a quem mais interessar, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga.

Ref: Sugestão, missão, propósitos e rumos da raça Mangalarga.

Resolvi detalhar-me em minha sugestão, pois penso tratar-se de tema extremamente relevante. Sou engenheiro agrônomo e recentemente me tornei sócio desta honrosa associação. Como amante e micro criador entusiasmado, venho acompanhando os percalços da nossa raça de perto a três anos e estudado o tema com dedicação. Pelo que vi, tivemos nestes últimos anos, avanços tremendos na morfologia, e estamos numa fase de resgate do andamento, muito bem sucedida, de modo que hoje podemos ver o Mangalarga como uma raça com “bio-tipo” e características realmente consolidadas. No entanto, apesar de toda maturidade da raça e toda estabilidade da economia brasileira, noto uma séria falta de mercado para comercialização de nossos cavalos e como conseqüência uma séria debandada de criadores para fora do negócio do cavalo. Nem todos têm o privilégio de poder criar cavalos como um “hobby”, e o que temos assistido é a permanência de, apenas, criadores que em ultima instancia não visam lucro ou sustentabilidade financeira em suas criações. Os leilões são poucos, com médias baixas e comercializações duvidosas, tenho acompanhando cavalos serem vendidos em dois ou três leilões no mesmo ano pelo mesmo proprietário e supostamente todas às vezes serem “arrematados”. Tentativas artificiais de elevação de preços não se sustentam no médio prazo (premissa econômica básica!), e o desespero para “desova” de produtos leva uma depreciação de plantéis, perda de credibilidade em relação aos criadores, e uma descrença crescente no que diz respeito a novos integrantes da raça. Falo por experiência própria.
Venho por meio desta por em pratica o lema: - “Uma associação tem o tamanho que os seus associados querem dar a ela”. E por isso venho dar a minha sugestão para mudar esse quadro.
Em estudo* pioneiro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), através da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), desvendaram a “cortina” dos palpites e mensuraram com bastante precisão, o tamanho e as características do agronegócio cavalo, no Brasil.
Veja alguns dados:
Resumo de contribuições dos diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil
Segmento
Movimentação Econômica (R$)
Percentual(%)

Medicamentos Veterinários
54.142.630,20
0,74

Rações
53.440.000,00
0,73

Selaria
174.600.000,00
2,38

Casqueamento e Ferrageamento
143.640.000,00
1,96

Transporte de Eqüinos
86.400.000,00
1,18

Senar
976.000,00
0,01

Mídia
10.000.000,00
0,14

Militar
176.000.000,00
2,4

Lida
3.954.275.000,00
54%

Equoterapia
43.200.000,00
0,59

Hipismo
57.600.000,00
0,79

Pólo
1.684.400,00
0,02

Vaquejada
164.000.000,00
2,24

Turismo Eqüestre
21.000.000,00
0,29%

Escolas de Equitação
78.000.000,00
1,06

Jockey
359.500.000,00
4,91

Trote
1.000.000,00
0,01

Exposições e Eventos
146.100.000,00
1,99

Segmento "Consumidor"
1.654.400.000,00
22,6

Leilões
19.100.000,00
0,26

Exp. e Imp. De Cavalos Vivos
8.833.623,68
0,12

Carne
80.000.000,00
1,09

Curtume
15.000.000,00
0,2

Seguro
2.500.000,00
0,03

Veterinários
20.000.000,00
0,27

Total
7.325.391.653,88
100

Tabela Adaptada – Fonte: CEPEA 2006
Na página vinte, é mostrado que “ A análise dos dados entre 1990 e 2003(fig 6) indica que a tropa deslocou-se em direção as regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está passando por um processo de desconcentração.”
Não só desconcentração, mas o que tudo indica, já com esses primeiros dados, é que a tropa de cavalos acompanha diretamente as fronteiras de expansão pecuária do país.
Mais adiante (pág. 22) é mostrada uma correlação entre quantidade de rebanhos em 5558 municípios, em 2004(Fonte: IBGE-2006), e nota-se uma alta correlação entre o eqüino e o bovino (0,744; ao passo que eqüinos e outros gira entre -0,05 à 0,4). Mais ainda, o índice de correlação de crescimento dos dois rebanhos chega a 0,867; segundo este mesmo estudo.
Não bastasse, ainda é concluído pelo artigo: - “...existe uma sobre utilização dos animais de montaria(tabela 5), sugerindo que há potencial técnico para elevar a quantidade de eqüinos para lida”.
É notória a pujança do mundo dos rodeios (não avaliada neste estudo) e aguda, a expansão dos esportes com lida de gado. Não é a toa que a única associação que destoa em números superlativos, é a de criadores de Quarto - de - Milha, que levaram seu pequeno corredor de curtas distancias a se tornar um ícone para vaqueiros e “cowboys”.
No Brasil só há cavalos, onde há bois!
Á fora jóqueis, escolas hípicas, pólo, exercito e outras utilizações pouco apropriadas ao Mangalarga e pouco representativas, por mais incrível que pareça, no compito geral do complexo agronegócio cavalo, o que gera mercado e divisas para o negócio é a pecuária e tudo que gira em torno dela.
Nosso cavalo já nasceu vaqueiro, estamos insistindo em elitiza-lo, urbanizá-lo e estamos perdendo grande parte de suas características.
Versatilidade, rusticidade e principalmente, popularidade.
Competimos, atualmente, em um segmento, já restrito, (turismo rural e passeios) com raças muito mais tradicionais que a nossa, como o Puro Sangue Lusitano, e com muito mais apelo popular, como o Campolina ou o Mangalarga Marchador, e renegamos a segundo plano a grande vocação do nosso cavalo, a lida no campo e tudo que a relaciona.
Proponho um resgate destas antigas vocações.
Proponho uma reintrodução do nosso cavalo a cultura e ao dia-a-dia das fazendas e fazendeiros. Foi assim que o Mangalarga ganhou fama e é assim que ele foi idealizado a mais de um século.
Esta dada a sugestão!
Atenciosamente, Luiz Alberto Patriota

*Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil CEPEA/Esalq – Brasília:CNA;MAPA, 2006

Mangalarga - História e Origens


O CAVALO MANGALARGA –

SUA HISTÓRIA E SUAS ORIGENS


(...)“A origem da raça Mangalarga é um tanto controversa. Em verdade, como a história começou há quase três séculos, muitas lendas se criaram e hoje se torna difícil apontar o fato mais correto.

Todas as estórias, no entanto, têm como personagem central o Barão de Alfenas, que assim aparece sempre como o "pai da raça".

Segundo alguns antigos criadores a raça teria se originado no Estado de São Paulo, porém esta verdade parece ser a menos provável, já que muito antes de ser conhecido neste estado já se falava no Sul de Minas Gerais, de um cavalo grande e de boa marcha.

Para Severino Junqueira de Andrade, que cita narrativas feitas pelo Barão de Alfenas a seu avô, Francisco de Andrade Junqueira ("Chiquinho do Cafundó), filho caçula do Barão, a raça e o nome Mangalarga teriam se originado numa das inúmeras viagens realizadas pelo Barão de Alfenas ao interior de Minas Gerais. Certa vez, passando por Vila Rica (hoje Ouro Preto), o Barão de Alfenas teria pernoitado na fazenda de um seu amigo, que lhe teria vendido um potro de excepcional qualidade, que bem aproveitado e desenvolvido gerou a semente da Raça Mangalarga.

Outra versão, no entanto, é relatada por Geraldo Diniz Junqueira (Fazenda Boa Esperança - Orlândia-SP), um baluarte da equinocultura nacional.

Segundo ele, o nome Mangalarga deriva de uma fazenda com este nome que existia no município de Paty do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro. Numa ocasião, quando o Barão de Alfenas era ainda um deputado da Corte Imperial, um seu colega de Câmara o convidou para uma visita a esta fazenda, para que conhecesse alguns cavalos de rara qualidade. Durante a visita, o Barão de Alfenas teria dito que, embora os animais existentes na Fazenda Mangalarga fossem realmente de boa qualidade, em sua propriedade no Sul de Minas (a Fazenda Campo Alegre), existiam animais superiores àqueles.

Desta forma, foi marcada uma visita à fazenda do Barão para que se conhecesse seus cavalos. Assim, seu colega deputado, ao conhecer o plantel do Barão teria ficado empolgado e adquirido alguns animais que foram levados à Fazenda Mangalarga no Estado do Rio de Janeiro.

Esses animais ficaram por demais conhecidos nos passeios nas praias do Rio de Janeiro e, logo em seguida, começaram a aparecer no Sul de Minas comerciantes interessados em adquirir animais iguais aos da Fazenda Mangalarga, daí ter se originado o nome.


O MANGALARGA PAULISTA E O MINEIRO

Para a maioria dos criadores a diferença entre o Mangalarga paulista e o Mineiro foi adquirida através de um intenso processo de seleção. Segundo narram alguns historiadores desta raça, inicialmente o cavalo Mangalarga servia como meio rápido de transporte, além de possuir grande resistência. No entanto, a marcha deste animal teria se caracterizado pelos constantes exercícios de caçadas que se faziam no Sul de Minas.

Segundo explica Geraldo Diniz Junqueira, "a caçada naquelas épocas não tinha como finalidade matar o animal. O interesse era acompanhar a caça, enquanto o caçador acompanhava tudo ao lombo do cavalo". No Sul de Minas, portanto a caçada era feita em região de topografia montanhosa. O caçador podia acompanhar a caçada à distância, parado no alto de um morro. Isto, de certa forma, não exigia que o animal acompanhasse a caça seguidamente.

Quando, porém, o cavalo foi transportado para o norte do Estado de São Paulo, encontrou ali uma região de topografia diferente, plana, caracterizada por uma vegetação de cerrado. Nesta região, para sentir a caça, o caçador tinha que acompanhá-la seguidamente, pois, caso contrário, praticamente não veria nada.

O cavalo passou então a acompanhar a caça, exigindo-se dele maior velocidade.

Começou aí, segundo consta, a diferenciação dos Mangalargas Mineiro e Paulista: o Mineiro mais marchador e o Paulista mais trotador.


OS PRIMEIROS CRIADORES E OS PRIMEIROS RAÇADORES

Como já vimos anteriormente, o Barão de Alfenas, que tinha o nome de Gabriel Francisco Junqueira, é conhecido como o "pai da Raça Mangalarga" e é seu primeiro grande criador.

A história, no entanto, começa a se desenvolver de forma mais intensa à partir de 1812, quando um sobrinho do Barão de Alfenas - Francisco Antônio Diniz Junqueira, muda-se para a Fazenda Invernada no município de São Bom Jesus da Cana Verde, hoje conhecido como Batatais, no interior do Estado de São Paulo.

Segundo relatos da família, Francisco Antônio trouxera para a Fazenda Invernada um lote de cavalos do Sul de Minas, que teriam formado a base atual do Mangalarga Paulista. Do lote de cavalos trazidos por Francisco Antônio destacavam-se os animais de nome: Sublime e Fortuna.

O cavalo Sublime, apesar de importância para a raça, não deixou descendência masculina, tendo, porém, deixado uma gama excepcional de fêmeas, que proporcionaram sem sombra de dúvidas, o desenvolvimento do plantel.

Já o animal de nome Fortuna, no testamento de partilha de Francisco Antônio Diniz Junqueira, foi citado através de um pedido de um de seus principais herdeiros que exigiu que em sua parte constasse uma égua parida de um potro filho de Fortuna. Este herdeiro, segundo narra a história, seria Antonio Bernardino Franco, e o potro, segundo a genealogia conhecida, seria o Fortuna II. Este fato teria ocorrido por volta de 1847.
Retornando à história de Francisco Antônio, este teve dois filhos homens, pois, Antonio Bernardino Franco era seu genro. Os nomes dos filhos de Francisco eram: João Francisco Diniz Junqueira e Francisco Marcolino Diniz Junqueira ("Capitão Chico").

João Francisco desenvolveu a raça através da linhagem feminina do animal Sublime, da qual a última filha de Sublime, Pretinha, era muito admirada e cobiçada, sendo constantemente visitada pro criadores e curiosos. Ainda de Pretinha, se tem conhecimento que foi mãe do raçador Rio Branco, que tinha como pai, o velho Telegrama.

TELEGRAMA
/
RIO BRANCO
(1868) \ PRETINHA - SUBLIME

João Francisco Diniz Junqueira continuava o desenvolvimento da raça e outro importante
animal que marcou sua criação foi o garanhão Cinza, que foi pai da égua Penitência, que por sua vez é avó materna e bisavó paterna do notável raçador Colorado.

Se João Francisco teve importância no aprimoramento da raça, foi com outro filho de Francisco Antonio, o Francisco Marcolino ("Capitão Chico") que começaram a surgir os grandes raçadores. O principal cavalo do Capitão Chico tinha o nome de Baio Escuro, sendo filho do Fortuna III, e este filho do Fortuna II.

/ Monte Negro (por Lontra, filha de Jóia da Chamusca x Alazã Velha, por Alazão Velho)
Fortuna I - Fortuna II - Fortuna III - Baio Escuro /
\ Sublime do Baio Escuro

Baio Escuro gerou como filhos os raçadores Monte Negro e Sublime do Baio Escuro, sendo Monte Negro o avô materno e bisavô paterno do pilar Colorado.

Outro animal de destaque na criação do Capitão Chico foi o velho Telegrama, que teria sido adquirido no Sul de Minas do primo Francisco de Andrade Junqueira ("Chiquinho do Cafundó” - filho caçula do Barão de Alfenas, no município de Cristina-MG).

Já adentrávamos o ano de 1868, quando o velho Telegrama teve como filho o animal Rio Branco, que posteriormente viria a ser pai do ´chefe de raça´ Índio, o qual tem hoje enorme influência na raça Mangalarga, em quase todos os criatórios.





EMPRESTANDO UM CAMPEÃO


Naquela época ainda não existiam os grandes campeonatos das raças, mas o garanhão Jóia da Chamusca, que viveu até o ano de 1854, certamente seria um campeão se fosse feito um concurso naqueles tempos. Este notável raçador também foi utilizado pelo Capitão Chico, que por duas vezes o tomara emprestado ao criador João Alves Gouveia, proprietário da Fazenda Chamusca, no município de Cachoeira dos Ratos, Estado de Minas Gerais.

Jóia da Chamusca teve como filhos o garanhão Cinza(já citado anteriormente), Jóia do Andrade (ascendente masculino direto da famosíssima égua Faluá) e Joião, que posteriormente seria pai da matriz Jóia. Esta, por sua vez, seria mãe dos consagrados reprodutores Índio, Jupiter e Japão.

CINZA
/
JÓIA DA CHAMUSCA - JÓIA DO ANDRADE - FALUÁ
\
JOIÃO - JÓIA (matriz) - ÍNDIO (por Rio Branco)
\ JUPITER
\ JAPÃO

Das filhas de destaque de Jóia da Chamusca, podem ser citadas Lontra e Manchada, sendo que Lontra foi mãe de Monte Negro (já citado), Maine e Plutão.

Mas o Capitão Chico continuou desenvolvendo sua criação e por volta de 1845 teve em seu plantel outro importante ‘chefe de raça’ : o Alazão Velho (ascendente através de sua filha Alazã Velha, das éguas Lontra e Manchada- estas duas ascendentes de quase todos os atuais animais da Raça Mangalarga.


OUTRO CAPÍTULO, OUTRO CRIADOR

O tempo passava e enquanto o Capitão Chico trabalhava para melhorar a raça, outros criadores também se empenhavam em melhorar seus plantéis.

Quase na mesma época do Capitão Chico, talvez um pouco antes, surgia José Frausino Junqueira, irmão de Francisco Antônio, então proprietário da Fazenda do Favacho no Sul de Minas Gerais. José Frausino teve como principais animais de seu plantel os afamados Fortuna III (pai do Baio Escuro) e Gregório, este pelos idos de 1826. Gregório foi o pai do Manco do Favacho, que por sua vez foi pai dos famosos raçadores Cisne e Queimado.

Cisne foi ascendente por linhagem masculina direta da égua Fantasia, mãe dos conhecidos Minuta e Pensamento.

Queimado foi pai de Castanho, que posteriormente viria a ser pai da extraordinária matriz Pitanga. Esta última geraria Penitência Castanha, que marcaria sua presença na raça como mãe de Fortuna IV e da já citada égua Jóia. Ainda sobre o animal Queimado, sabese-se que foi vendido ao conhecido personagem da história do Brasil, Alferes João Caetano.


DE NOVO COM O BARÃO DE ALFENAS

Como já dissemos, o Barão de Alfenas é conhecido como "o pai da raça", mas no entanto seus cavalos só passaram a ser conhecidos através de seus filhos, 'Chiquinho do Cafundó' - criador do semental Telegrama, e Antonio Gabriel Andrade, criador do’chefe de raça’ Rosilho, também conhecido como Abismo.

Como já houvéramos falado sobre Telegrama, vamos discorrer sobre Rosilho(ou Abismo), que foi ascendente direto, por linha masculina, do conhecido reprodutor Bellini JB, de criação e propriedade de Urbano Xavier de Andrade (Fazenda Campo Lindo-Cruzília). Este soberbo animal, Bellini, através de seus filhos: Rádio, Mozart, Submarino, Ouro Preto, Brasil, Bolivar, Calçado, Pégaso e Clemanceau I, tem larga influência nos cavalos Mangalarga, das criações do Sul de Minas e, principalmente, em toda raça Mangalarga Marchador.


OS FILHOS DO CAPITÃO CHICO

Ao longo da história, tal como o pai o fizera, também os filhos do Capitão Chico se destacaram na criação do Mangalarga.

Antonio Olinto Diniz Junqueira foi criador do famoso cavalo Óder, pai de Botafogo 53, campeão no Rio de Janeiro e de propriedade de Renato Junqueira Netto, com grande influência na Linhagem 53.

Além de Óder, outro animal famoso da criação de Olinto foi Calçado Zaino, pai de Moita, que por sua vez foi pai do conhecidíssimo animal Bordado, de propriedade do Sr. Sebastião de Almeida Prado. As linhagens femininas de criação do Sr. Antonio Olinto vieram a se constituir no arcabouço da criação do Sr. Sebastião.

Outro filho do Capitão Chico foi o Cel. Francisco Orlando, que sem dúvida tem grande destaque por ter sido o criador do pilar Colorado. Cavalo de extraordinária qualidade que marcou para sempre a história da criação do Mangalarga, Colorado nasceu em 1912, alazão bronzeado, daí a razão de seu nome. Animal de grande porte, ágil, de marcha trotada, tinha como pais o famoso Fortuna V e a égua Prenda. Em 1920 sagrou-se Campeão Nacional na exposição realizada no Rio de Janeiro e morreu no início de 1932, após ter tido vários filhos consagrados.

Colorado foi um raçador tão singular que, até a prevalência da cor alazã no Mangalarga atual, deve-se a ele, de vez que até então dominavam o castanho e o tordilho. O próprio Colorado era filho de um garanhão castanho, o Fortuna V, e de uma égua tordilha, a Prenda, sendo que a carga genética que lhe trouxe aquela pelagem caminhou encoberta por seis gerações por vias masculinas e cinco gerações por vias femininas, vindo de um mesmo ancestral comum, a égua Alazã Velha- animal de tão marcante influência que pode ser comparada a uma da Royal Mares do Puro Sangue Inglês.

Segundo narra Geraldo Diniz Junqueira, é sabido que o Cel. Francisco Orlando teria dito em 1911:
"- Vou mandar uma égua para ser coberta pelo cavalo do Magino e duvido e desafio o Fortuna a reproduzir outro filho igual, pois o meu vai ser o melhor cavalo da raça".

Esta frase teria sido dita pelo Cel. Francisco Orlando ao enviar sua égua favorita Prenda, para ser padreada pelo cavalo Fortuna V, de seu irmão Magino Junqueira.

MONTE NEGRO - FORTUNA IV - FORTUNA V - COLORADO (1912-1932)
/
PRENDA /

E o êxito do cruzamento, com o nascimento de Colorado, não fora um acaso, pois Francisco Orlando era um profundo conhecedor de cavalos, tendo viajado até mesmo pela Europa, de onde conheceu e importou animais de outras raças, próprias para a sela. Colorado foi assim, a obra-prima de um criador que, a partir de animais que recebera de seus pais, fez deles um valioso e inigualável plantel.

OUTROS CRIOULOS DE FRANCISCO ORLANDO E A INFLUÊNCIA DE COLORADO NA RAÇA MANGALARGA

O Cel. Francisco Orlando, além de Colorado, teve outros crioulos importantes, como:

- Campeão : pai de Faveiro, que produziu Invasor, campeão da raça e iniciador de uma das mais importantes linhagens do moderno Mangalarga, tendo gerado a Fogo, que gerou a Enigma e Comanche RN, que por duas vezes consecutivas venceu a prova funcional para garanhões da raça.

- Montenegro : pai de Fortuna IV, que produziu Fortuna V, o pai do próprio Colorado.

- Suco : pai de Tank, que produziu Bordado, que gerando a Capitel, deu início à linhagem criada pelo Sr. Sebastião de Almeida Prado e seus seguidores.

- Coração : pai de Faluá, extraordinária matriz que produziu 3 importantes ´chefes de raça’: Astuto, Kaiser e Sulamericano.

- Vae Vem : pai de Caipira, Chinesa, Redonda, Chata e Vae Vem do Agudo, todos de larga influência na Criação 53.

- Brinco : pai de Chata, mãe de Faveiro e de Cabeção (mãe de Legítimo), o primeiro da maior importância ma criação de São João da Boa Vista e a segunda na criação do Sr. Floriano Esteves Martins ('Flori') e seus seguidores.

- E criou também Francisco Orlando, e isto é importante saber, o semental Índio, por Rio Branco e Jóia Castanha, por Joião, verdadeiro iniciador da criação de Colina(SP), uma vez que foi pai de Aventureiro, animal que exerceu total influência na Criação 53, através de suas filhas e, principalmente, seu filho Apolo 53, que com seus descendentes diretos Lanceiro e Fuzileiro marcou definitivamente aquela criação, uma vez que este último gerou Lírio, que produziu Trevo, pai de Nitrato 53 que, segundo seus criadores, constitui o marco e o patrimônio principal da Criação 53 de nossos dias.

Além do que, Apolo 53 é ainda o fundador da linhagem que representa a criação do Sr. Antenor Junqueira Franco, por intermédio de seu filho Predileto; e influi de maneira significativa nos plantéis do Sul de Minas, portanto na raça Mangalarga Marchador, por intermédio de seu filho Armistício JF (oriundo da matriz Baia), nascido na Fazenda do Favacho.

O Cel. Francisco Orlando selecionou e criou também uma enorme quantidade de animais importantes como: Plutão, Trunfo, Bayard, Ímpio, Rápido Castanho, Tigre, Yacht, Júpiter, Biscoito, Jofre, Radium, Safster, Zape, Bar, Sahike, Trovão, Tenor, Maine, Viaduto, Linguiça II, Campeä, Colina, Gaúcha, Calçada, Prenda, Negrita, Porcelana, Castanha do Suco, Rapadura, Conquista, Náfega, Princesa, Faluá, Marquesa, Chamusca III, Fronteira, Chata, Orelha, Montanha, Lola, Taperá, Fantasia, Andorinha, Narceja, Colina I e Espada, que foram os elos, as malhas do tecido vivo que constitui a criação do Mangalarga moderno.

Isto, falando do criador Francisco Orlando, de seu famoso cavalo, o Colorado, o mínimo que se poderia dizer é que: exerceu tão grande influência, nos antigos e atuais plantéis, que hoje, praticamente toda a Raça Mangalarga dele descende, seja por linhagem masculina ou feminina.

A importância direta de Colorado pode ser avaliada pela simples citação de alguns de seus descendentes:

- Astuto (por Colorado x Faluá, filha de Coração), pai de Sheik;
- Pensamento (por Colorado x Fantasia, filha de Apolo), genearca que formou o tronco de Turbante JO;
- Campeão (por Colorado x Queimada, filha de Plutão), pai de Faveiro;
- Suco (por Colorado x Cigana II, filha de Kalifa), pai de Capitel;
- Sulamericano (por Colorado x Faluá, filha de Coração), pai de Yoyô;
- Burity (por Colorado x Princesa, filha de Castanhão), pai de Absintho;
- Legítimo (por Colorado x Cabeção, filha de Brinco), pai de Nero;
- Óder (por Colorado x Sentida, filha de Joião), pai de Botafogo 53.

Além destes, que imortalizaram Colorado como grande ‘chefe de raça’ nas linhagens masculinas, deixou outros filhos que se perpetuaram como pais de linhagens femininas importantes, a saber: Genuíno, Feitiço, Bismarck, Ímpio, Yankee e Dique.

Colorado deixaria ainda grande número de filhas, as quais são frequentes nos pedigrees dos melhores garanhões atuais: Mussurana, Doradilha II, Realesa, Baronesa, Ariranha, Bugrinha (mãe de Sultão e Caboclo). Minuta (mãe de Sheik), Canela, Dançarina, Rapadura, Querida II, Brasa, Luzitana, Savoia, Mascote, Florisbela, Negrita, Gaúcha, Jóia, Alazã, Sota, Mimosa (mãe de Galante), Imburana, Colina, Gazeta, Borboleta, Alemanha, Caninana, Alvorada, Valência, Porcelana ( mãe de Absintho e Invasor), Aleluia, Preta, Braceira, Bolacha, Labareda, e tantas outras....

Fazendo analogia com o Puro-Sangue Inglês, onde os descendentes de Eclipse ganham constantemente todos os Grandes Prêmios e Derbys, os descendentes de Colorado surgem como estrêlas nas Exposições Nacionais e provas funcionais, acentuando a importância de Colorado, o verdadeiro patriarca do Cavalo Mangalarga.

Estes foram os principais feitos de um cavalo que com suas qualidades e seu potencial genético, exaltou a obra de um homem, fundador de cidades - Orlândia(SP), que com o trabalho e visão ampla, colaborou decisivamente para o melhoramento de um importante setor da pecuária nacional.

JOSÉ FRAUZINO, OUTRO DESTAQUE

José Frauzino Junqueira Netto era neto de José Frausino do Favacho e genro do Capitão Chico. A ele também se deve um largo tributo pela seleção do cavalo Mangalarga. Seus crioulos mais conhecidos foram: Apolo 53, pai de Fuzileiro e Lanceiro, principais raçadores da linhagem masculina do plantel 53, bem como de Armistício JF, pai de Candidato JF na centenária Fazenda do Favacho; Predileto, importante semental do Sr. Antenor Junqueira Franco e que veio a exercer grande influência na criação do Sr. Badih Aidar e do Sr. João Francisco Diniz Junqueira, através das matrizes Blusa, Cabocla e Malat. Aliás, a égua Malat, avó de Batéia, tornou-se extremamente conhecida através de seus descendentes Whisky, Siriema, Regente, Nababo e Traviata, todos eles ascendentes de ‘chefes de raça’ atuais.
Por fim, outro grande feito de José Frauzino Junqueira Netto foi a criação do animal Fortuna IV, filho de Monte Negro e pai de Fortuna V, de propriedade do Sr. Magino Diniz Junqueira. Fortuna V, com já citamos, foi o pai do grande raçador Colorado.

AS NOVAS GERAÇÕES

O Mangalarga teve seu livro de registro criado em 1934. A partir de lá a genealogia dos principais animais é conhecida através dos pedigrees e do registro mantido na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga.

Na sua história mais remota, o Mangalarga tem sua origem no extraordinário cavalo da Península Ibérica, que cruzado com o que ali foi levado pelos mouros, deu origem ao Andaluz e ao Alter. Estes foram trazidos para as Américas e criaram a base do cavalo nacional. Com a vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, vieram também novos garanhões que foram levados à Coudelaria de Barbacena, em Minas Gerais e emprestados aos criadores da região. Estes garanhões melhoraram o rebanho nacional e criaram as seis linhagens básicas das quais descende o Mangalarga: Jóia da Chamusca - Telegrama - Gregório - Sublime - Rosilho (ou Abismo) e Fortuna.

Até o começo do Século XX estas linhagens masculinas se equivaliam. Nesta época surgiu o animal Colorado, determinando então o predomínio definitivo do grupo Fortuna.(...)”

Geraldo Diniz Junqueira - Fazenda Boa Esperança - Orlândia(SP) - 1999/2000

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Primeiras Matrizes - cont.


Torreblanca do PEC, montada por minha querida irmã. Essa matriz é uma filha de Monteblanco do PEC(Grande Campeão Nacional Cavalo Pampa) em Dunablanca do PEC(Égua com classificação Muito Boa, mãe de Lagoblanco do PEC - Grande Campeão Nacional na Associação de Cavalo Pampa), caracteriza-se pelo belo porte e pela extrema docilidade, critério básico de nossa seleção.

Primeiras Matrizes


Ao fundo, Escalada NLB, em sua apresentação na concorrida exposição de JAÚ 2008. Bela matriz, filha de Cristal da Jauaperi (Grande Campeão Nacional) em Mariana JO (Última filha de Turbante JO), promete muito na reprodução e reune todas as caracteristicas que buscamos no Mangalarga.

Blog Mangalarga

Fazia tempo que pensava em criar um espaço onde pudesse divulgar minha criação e algumas idéias que tenho sobre criação de Mangalargas e Agronomia de modo mais genérico. Aqui está! Nasce mais um espaço para apaixonados como eu pelo, "Cavalo de Sela Brasileiro". Grande abraço a todos. Luiz