segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mais uma história curiosa: O senador Incitatus!!!



Incitatus era o nome do cavalo preferido do Imperador Romano Calígula. De acordo com o escritor Suetónio na sua biografia de Calígula, Incitatus tinha cerca de dezoito criados pessoais, era enfeitado com um colar de pedras preciosas e dormia no meio de mantas de cor púrpura (a cor púrpura era destinada somente aos trajes imperiais, ou seja, era um monopólio real). Foi-lhe também dedicada uma estátua em tamanho real de mármore com um pedestal em marfim. Conta a história que Calígula incluiu o nome de Inictatus no rol dos senadores e ponderou a hipótese de fazer dele cônsul. (Fonte: Wikipédia)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

“Creep feeding” a dica do velho mestre!!!





Outro dia, consegui uma fita VHS sobre como preparar potros para exposição, apresentada pelo Sr. José Oswaldo Junqueira. Material antigo, do tempo que ainda não se usava ração industrializada e o manejo ainda era muito mais empírico do que nos dias atuais, uma coisa me chamou atenção. O J.O. já usava suplementação com “creep feeding” nos seus potros.
Assim que terminei de ver a fita arrumei um tempinho e cai matando na pesquisa sobre o tema. Ai vai o que conclui.
Como já é sabido por todos os criadores de cavalos de raça pura, um animal de elite precisa de um manejo muito mais rico e bem estudado do que um cavalo mestiço, até ai sem novidades, ração, vermífugos, escovações e banhos, já fazem parte da nossa rotina de tratamento eqüestre, porém, o que afirmava o Sr. Oswaldo no vídeo, e acabei descobrindo que é mesmo verdadeiro, é que os potros de elite, não atingem todo seu potencial genético se não forem devidamente suplementados na época do aleitamento.
Nossas éguas não são capazes de suprir com o leite, toda bagagem nutricional que um grande campeão precisa para atingir seu porte e estrutura finais. Em um artigo da Revista Brasileira de Zootecnia (R.Bras.Zootec. vol.29 no.2 Viçosa Mar./Apr. 2000Adalgiza Souza Carneiro de Rezende, Ivan Barbosa Machado Sampaio, Guilherme Laguna Legorreta, Dalton Colares de Araújo Moreira), pesquisadores concluíram que a suplementação dos potros entre 2 e 12 meses de vida, época em que os cavalos atingem 90% de sua altura final, proporciona um crescimento sensivelmente superior aos potros suplementados somente após o desmame.
Aos seis meses os potros já atingiram em média 80% de seu potencial de crescimento de modo que é perdida grande parte de sua fase de crescimento sem uma alimentação que respalde todas as suas necessidades. Transcrevo as conclusões do artigo:
“Potros suplementados com concentrado acrescido de mistura mineral, dos 2 aos 12 meses de idade, apresentaram à desmama maior altura na cernelha e perímetro torácico que potros não-suplementados durante a amamentação.
Aos 12 meses de idade, somente o perímetro torácico foi maior para os potros que receberam suplementação a partir dos dois meses de idade.
Potros não-suplementados no "Creep" apresentaram ganho compensatório em altura na cernelha.
Não foi observada a deformidade flexural nos potros que apresentaram ganho compensatório, quando suplementados com os níveis nutricionais deste experimento.
Eqüinos criados para desempenharem atividades atléticas devem receber suplementação com concentrado dos 2 aos 12 meses de idade, visando obtenção de desenvolvimento corporal com melhor arqueamento torácico”
Vai ai mais uma dica e mais uma vez, temos que “tirar o chapéu” para o velho mestre, José Oswaldo Junqueira.
Abraço, Luiz Patriota(Pernambuquinho)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Melhoramento Genético e Ferramentas de Seleção - Continuação

PENSAMENTO - PEDIGREE E SELEÇÃO FENOTÍPICA ORIGINAIS DA RAÇA

Agora, vou tratar de outro aspecto do melhoramento genético. A seleção.
Como citado no primeiro artigo deste blog sobre o tema, disse o grande João Francisco Diniz Junqueira: “O Melhoramento de qualquer raça deve ser pela seleção..." As implicações desta frase pareçem obvias, mas não é tão simples assim.
O objetivo de uma criação deve ser sempre a busca de um modelo ideal, a incansável meta de se atingir um padrão desejável. De nada adianta ficar misturando pedrigrees famosos ou cruzando cavalos de destaque, se não triarmos os melhores exemplares ou excluirmos aqueles com imperfeições ou detalhes que fogem ao padrão da raça. O genoma do cavalo é muito vasto, são carregados em sua bagagem genética, cromossomos indesejados e podem ocorrer mutações que levem a alterações morfológicas sem uma explicação pela descendencia obvia. Portanto, não é porque um cavalo é filho deste ou daquele animal que necessáriamente carregue fielmente a carga genética de seus progenitores, a seleção do fenótipo é fundamental, ainda mais em se tratando de uma raça tão jovem como a Mangalarga, onde tipos formadores, de outras raças,
ainda insistem em aflorar na morfologia de algun exemplares.
ABSINTO SM - DO CRIADOR SEBASTIÃO MALHEIROS
EXEMPLO DE SELEÇÃO DE BIO-TIPO IDEAL DA RAÇA - MUITOS À ÉPOCA CHEGARAM A CHAMAR ESSE CAVALO DE MESTIÇO, COMENTÁRIO ESSE, QUE CUSTOU A SAÍDA DESTE GRANDE CRIADOR DA ABCCRM, PORÉM HOJE SABEMOS DA IMPORTANCIA DO ABSINTO E DA TROPA DO SR. SEBASTIÃO MALHEIROS NA FORMAÇÃO DO MANGALARGA.

Não é raro vermos em pista ainda hoje, animais com altura e porte muito além do inicialmente preconizado pelo padrão racial, ou ainda animais com andamento inadequado e indole bem diferente dos antigos cavalos de Orlândia, estes ultimos, ótimos para o adestramento e ensino de rédeas. Não podemos esquecer que o Mangalarga é um cavalo de sela e esse padrão de animal exige a manutenção de alguns aspectos morfológicos e comportamentais já exaustivamente discutidos e amplamente divulgados nos livros da associação.
É por isso que só a seleção e a manutenção do rumo certo podem levar a consolidação e perpetuação de uma raça.


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Os Nomes dos Nossos Cavalos


Está preconiozado no estatuto da ABCCRM, a proibição do uso de nomes estrangeiros em nossos Mangalargas, no entanto, são vários os nomes exóticos, estrangeiros e até jocosos presentes no Registro Genealógico da associação. Para provocar o debate e talvez algumas boas risadas, segue uma história, realmente exótica sobre um nome de um cavalo.

O cavalo Filho da Puta!

No ano de 1815, o cavalo que ganhou o St Leger Stakes, em Doncaster, na Inglaterra, foi imortalizado em um quadro a óleo, executado por Herring, um dos grandes pintores da época. Até aí, nada demais. Era costume, naqueles tempos remotos, os vencedores dos grandes clássicos servirem de modelo a um artista, responsável por imortalizá-lo na tela. Então, por que falar disso? Bem, é que o ganhador desse St Leger de 1815 chamava-se Filho da Puta. Isso mesmo, o nosso palavrão. Sabem por quê? Há pelo menos três versões sobre a razão desse insólito nome. A que nos parece mais plausível (e também a mais curiosa), passamos a relatar. Consta que o Embaixador português, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva inglesa com a qual mantinha relações, digamos, maritais. Pois bem, nosso Embaixador compareceu a um leilão de potros e comprou uma potranca à qual batizou de Mrs. Barnett, que era o nome da sua viúva, homenageando, assim, seu britânico amor. Mrs. Barnett (a égua), cumpriu campanha discreta nas pistas inglesas, sofreu uma lesão e não pode mais continuar correndo. Nosso bom português, então, deu-a de presente a um seu amigo da corte, que era também criador de cavalos. Passaram-se mais de 12 meses e neste interregno a viúva "pateou o ninho", mandando-se com um oficial da armada, bem mais jovem. O Embaixador, é óbvio, não gostou da traição, mas engoliu sua mágoa. Num fim de semana, ele foi convidado por seu amigo criador para uma visita ao haras, visto que sua égua estava por parir. E lá se foi nosso herói. Efetivamente, Mrs. Barnett, a égua, pariu um lindo potro e o Embaixador foi levado a examiná-lo. Era de fato um belo espécime eqüino. Como uma homenagem a seu luso amigo, o Lorde inglês pediu que ele o batizasse com um nome típico de Portugal. O Embaixador, ainda engasgado com a perda de sua ex-amada, lascou-lhe o nome que lhe veio à mente ao ver sua égua com o potrinho ao pé. Filho de Mrs. Barnett, só podia se chamar Filho da Puta. E foi assim que o ganhador do St Leger de 1815 passou para a posteridade. Não por ter sido um grande cavalo. Até que foi muito bom, mas não conseguiu dar continuidade a sua linhagem. Sumiu da história do PSI, mas sua pintura ganhou centenas de milhares de reproduções e hoje enfeita paredes em todos os países de língua latina. A gravura de Filho da Puta, em função de seu nome bizarro, transformou-se no maior best seller do turfe mundial.
Escrito por site INFORME TURFE


Abraço a todos, Luiz

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Colonização Européia, a Herança na Criação de Cavalos no Brasil e o Modelo Brasileiro de Produçaõ de Equinos

O cavalo moderno resulta basicamente da mistura dos sangues, europeu (cavalos de tração), africano (Berbere) e asiático (formadores da raça árabe). Dos ramos mais modernos temos como grandes geradores de todos os cavalos, principalmente os brasileiros, os cavalos ibéricos (Andaluz), Puro Sangue inglês e o Puro Sangue Árabe, destes, teve notória influencia nos plantéis brasileiros o cavalo ibérico trazido junto aos portugueses com a vinda da família real e éguas autóctones, muito provavelmente Berberes vindas das antigas colonizações espanholas e portuguesas. Junto com esses cavalos da realeza veio toda uma tradição européia de criação de cavalos, onde o frio e as condições de alimentação sazonais, limitam o cavalo a passar grande parte de sua vida confinado, dependendo totalmente do homem para sua alimentação e manutenção.
Mesmo os modelos de instalações tradicionalmente encontrados em hípicas e haras por todo Brasil refletem grandemente a visão européia que ainda se tem de como criar Cavalos. “Entidades sagradas” como Feno de Alfafa, Aveia e Cocheira, ainda são inabaláveis na crença de alguns criadores.
No Brasil não temos neve, as forrageiras tropicais verdejam quase que o ano todo em abundancia, ainda possuímos terras baratas e em quantidade e nossas raças eqüinas são substancialmente mais rústicas que seus parentes europeus, e tudo isso já foi percebido a varias décadas atrás por alguns pesquisadores brasileiros. Tive a honra de estudar com um deles, o professor Cláudio Haddad. O professor Haddad, nos apresentou a época a um sistema tropical de criação de eqüinos, onde o cavalo é criado de maneira extensiva, a pasto e a intervenção do homem é minimizada e otimizada, reduzindo custos e aumentando a qualidade de vida dos animais. Com um pasto bem formado de uma boa gramínea a nutrição do cavalo já está em grande parte assegurada, a suplementação se reduz ao mínimo, e está não pode deixar de considerar alimentos abundantes nos nossos campos, como milho, sorgo, soja e mesmo capineiras de capins mais altos como o Napie, para o inverno. O grande inimigo dos alimentos alternativos na alimentação de eqüinos, a cólica, em cavalos criados extensivamente a pasto, desaparece quase que completamente e o balanço nutricional se bem estudado pode ser conseguido com os alimentos mais inusitados. Também o haras deve ter seu desenho arquitetônico revisto com uma redução significativa das áreas cobertas e construídas em alvenaria. Os cavalos são alimentados, escovados, vacinados, medicados e manejados a pasto, em pequenas áreas centralizadas de serviço, as cocheiras só servem para aquela pequena parcela de animais em exposição e potros em doma.
Isso sim pode realmente viabilizar muitas criações e democratizar ainda mais a criação de cavalos.
Para quem quiser segue referencia do trabalho do professor Cláudio Haddad: HADDAD, Claudio Maluf . Sistema Brasileiro de Produção de Eqüinos. 1983

Grande Abraço, Luiz

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Visita ao Haras RPN


Neste domingo, tive o prazer de visitar o Haras RPN, de propriedade do Sr. Rodrigo Nunes. Em uma tarde maravilhosa pude acompanhar seu projeto de criação, ver seus animais e montar no seu garanhão, Fascinio OBC, um dos melhores cavalos de sela que já experimentei. Vale a pena conferir!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Melhoramento Genético e Ferramentas de Seleção



Sobre o melhoramento de nossos Mangalargas e as ferramentas científicas que dispomos para isso.

Escreveu em 1934, o grande João Francisco Diniz Junqueira: “O Melhoramento de qualquer raça deve ser pela seleção e não pelo cruzamento”. Em parte esta frase é verdadeira, porém em tempos mais modernos onde as ferramentas da engenharia genética estão mais amplamente difundidas e os conhecimentos sobre transmissibilidades de caracteres mais desvendados, não faz muito sentido ignorá-los e partir simplesmente para a seleção massal. O cruzamento dirigido e bem estudado faz muita diferença na rapidez e no sucesso de uma boa criação de cavalos melhorados. Além dos já tradicionais métodos de pontuação e análise visual dos animais, deve-se considerar muito bem a correlação de seus pedigrees. Não é nova a técnica, e muitos falam em consangüinidade controlada ou cruzamentos de parentes como benéficos ao melhoramento a décadas. Na verdade o que se está fazendo inconscientemente não é só um cruzamento de parentes, mas um retro-cruzamento com indivíduos parentais de maior destaque ou sucesso. O melhoramento genético de plantas já é conduzido assim a séculos e me parece incompreensível que alguns ainda apostem na loteria do “choque de sangue” para criar cavalos de primeira linha. Além deste, outro fator pouco é estudado ou levado em consideração na hora de se planejar os cruzamentos, a herdabilidade ou heritabilidade dos caracteres envolvidos na seleção(Tabela 1 Melhoramento e Genética do Cavalo Campolina - UFMG/2006 - Leonardo Meneguini dos Santos). Diversos artigos mostram que certos caracteres morfológicos ou de desempenho são mais facilmente expressados na progênie do que outros. Por exemplo: Altura de cernelha ou altura de garupa. Já outros são de difícil "transmissão" ou mensuração excetuando fatores ambientais. Ex: perimetro de canela e aprumos.
Portanto é muito mais econômico investir-se em um garanhão que tenha boas características de alta herdabilidade do que em garanhões com problemas nessas partes e qualidades dificilmente transmissíveis.
TABELA 1
Variável Herdabilidade (h2) Erro Padrão
Altura na Cernelha 0,71 0,03
Altura no Dorso 0,67 0,03
Altura na Garupa 0,68 0,03
Altura de Costados 0,43 0,03
Comprimento da Cabeça 0,61 0,03
Comprimento do Pescoço 0,49 0,03
Comprimento do Dorso - Lombo 0,51 0,03
Comprimento da Garupa 0,49 0,03
Comprimento da Espádua 0,54 0,03
Comprimento do Corpo 0,58 0,03
Largura da Cabeça 0,26 0,03
Largura do Peito 0,43 0,03
Largura das Ancas 0,42 0,03
Perímetro do Tórax 0,40 0,03
Perímetro da Canela 0,13 0,03

Nas conduções de seleções de cavalos coloridos, também abundante ainda a miscelânea de conceitos e teorias que se conta entre os criadores. A genética das cores, se não totalmente desvendada, já é bastante conhecida. Testes de homozigoze em cavalos pampa já são rotina entre grandes criadores e muitos são os artigos sobre as combinações gênicas relacionadas as diversas pelagens dos cavalos. Mesmo assim ainda vejo criadores afirmando que está ou aquela égua alazã é mais propensa a dar está ou aquela cor. Veja, alazã é uma cor homozigota e que implica em não expressão de nenhuma outra, portanto fica inteiramente a cargo do garanhão e do acaso, imprimir qualquer pelagem diversa na cria. Além disso, falta planejamento na criação de cavalos pretos ou amarilhos que vão sendo cruzados quase ao acaso sem nenhuma preocupação em fazer um teste estatístico de suas progênies. Enfim, faltam planejamento e apoio técnico de um melhorador.
Sugiro uma orientação mais afirmativa da associação e publicações de boletins técnicos mais freqüentes de modo a fazer chegar a já escassa literatura aos que dela precisam. Além disso, seria interessante intensificar convênios com universidades e sociedades de melhoramento animal para que mais estudos fossem promovidos em relação à genética e melhoramento eqüino. É isso ai, vamos estudar moçada!!!

Genética das Pelagens em Equinos



1- GENETICA DAS CORES BÁSICAS DAS PELAGENS DOS EQUINOS

1. Introdução

As pesquisas sobre genética das pelagens dos eqüinos ficaram esquecidas durante muitos anos. Pouco se conhecia sobre o modo de herança dos genes envolvidos com as pelagens e observava-se grande divergência entre os autores. Recentemente algumas publicações definiram com clareza o mecanismo de transmissão dos genes de algumas pelagens, mas muitas ainda precisam ser melhor elucidadas.

Dentre os fatores que contribuíram para o atraso no estudo da genética das pelagens dos eqüinos, podemos ressaltar:

- A espécie eqüina apresenta grande variedade de pelagens.

- As pelagens dos eqüinos são determinadas por vários pares de genes, o que proporciona uma infinidade de combinações gênicas.

- Em nosso país a nomenclatura das pelagens é confusa e regionalizada. Quando se trata de países diferentes, essa divergência se torna mais evidente ainda, o que dificulta a interpretação e aplicação dos resultados de pesquisas estrangeiras.

- O número reduzido de produtos que a égua tem durante a vida útil dificulta uma conclusão mais apurada sobre a forma de transmissão dos genes.

- O material oriundo dos fichários das fazendas de criação poderia ser de grande utilidade para se conduzir estudos sobre a genética das pelagens, mas infelizmente são pouquíssimos os haras que mantêm os dados zootécnicos dos animais catalogados e mesmo aqueles que possuem um fichário geralmente omitem o item pelagem.

Os dados das Associações de Registro Genealógico seriam o material mais indicado para se estudar os resultados da combinação dos diversos tipos de pelagens. Acredita-se que em futuro próximo um número significativo de dados provenientes dessas associações serão confiáveis, pois muitas já utilizam em sua rotina de registro testes de paternidade e controle do potro ao pé da égua. Para melhor utilização desses dados e divulgação dos resultados, seria necessário que houvesse padronização na nomenclatura das pelagens utilizadas pelas diversas associações de registro.

Existem diversas teorias sobre a forma de transmissão dos genes envolvidos com as pelagens dos eqüinos. A mais estudada é a da escola americana de Castle, que propõe
um abecedário para designar esses genes. No ABC da genética das pelagens dos eqüinos alguns genes têm ação bem conhecida, mas muitos são de ação desconhecida ou sem comprovação.


2. Abecedário da Genética das Pelagens dos Eqüinos

2.1 Genes da Série C (Color)

Apesar de ser a terceira letra do alfabeto, não se pode deixar de mencioná-la em primeiro lugar, devido a sua importância. Nesta série tem-se o alelo dominante C e o recessivo c. O C é responsável pela produção do pigmento melânico, pois permite que a reação bioquímica, descrita a seguir, aconteça em todas as suas etapas:


Tlrosina +Dopa tiroslnase+cobre Melanóide + Proteína =MELANINA


Na presença do alelo recessivo e, na forma homozigota (cc), o animal é incapaz de formar o pigmento denominado melanina, por uma deficiência da enzima tirosinase. A reação descrita não se completa. Esses animais são chamados de albinos e possuem pêlos brancos, pele e olhos róseos, pois o sangue é visualizado por transparência. O verdadeiro albino é observado nos coelhos e ratos. Na espécie eqüina nunca foi descrito nenhum animal com deficiência total de pigmento melânico. Os cavalos conhecidos como albinos possuem na verdade deficiência de produção da melanina e não ausência total e deveriam, portanto, ser denominados Pseudo­albinos (Foto 7A). Apesar de possuírem pêlos brancos e pele rósea, sempre apresentam olhos coloridos (castanhos ou azulados), o que demonstra deficiência de pigmentação e não ausência total. Além disso, algumas regiões do corpo podem se apresentar pigmentadas. De acordo com Castle, os mecanismos genéticos que resultam esses animais não estão relacionados com os genes da série C e serão mencionados oportunamente.


2.2 Genes da Série B (Black)

Os alelos desta série, B e b, são responsáveis pela cor do pigmento produzido. O B, dominante, quando acontece no genótipo nas formas homozigota (BB) e heterozigota (Bb), determina que o pigmento produzido seja preto. Seu alelo recessivo em homozigose (bb) leva à produção do pigmento vermelho. Com este conhecimento será possível definir os genótipos das pelagens preta (Foto 8A) e alazã (Foto 9A).

Pelagem Preta: CCBB CCBb
Pelagem Alazã: CCbb

2.3 Genes da Série A (Aguti)

Os alelos desta série são responsáveis pela produção da feomelanina, que determina clareamento da pelagem em áreas específicas. Dessa forma, se o animal estiver produzindo pigmento preto (B_) e o gene para feomelanina estiver presente no genótipo, determinadas áreas da pelagem serão de coloração vermelha e se o pigmento produzido for vermelho (bb), a presença da feomelanina tornará áreas especificas de tonalidade amarelada.

Na série A deve-se considerar, em ordem de dominância, os aleLos relacionados a seguir:

A+, A, a+,a

Determina clareamento que fica restrito às áreas da cabeça, flancos e focinho.

B_A+ Na presença de B, alelo responsável pela produção do pigmento preto, o
determina a pelagem conhecida como Castanha Pinhão. O animal terá produção do pigmento preto, com clareamento (tonalidade avermelhada) na cabeça, flanco e axilas (Foto 10E).

BbA+ Pelagem vermelha com áreas amareladas na cabeça, flanco e axilas.

A Clareamento de toda a cabeça, pescoço e tronco.

B_A Pelagem Castanha: o animal terá crina, cauda e membros pretos demonstrando a presença do B_ no genótipo. O alelo A provoca clareamento da pelagem na cabeça, pescoço e tronco, tornando o pigmento de tonalidade avermelhada (Foto l0A).

bbA_ Pelagem alazã sobre baia. Com esse genótipo o animal vai se apresentar com crina, cauda e membros vermelhos, pois o pigmento produzido será o vermelho (alelo b em homozigose), mas a presença do A no genótipo provoca clareamento nas regiões da cabeça, pescoço e tronco, tornando a pelagem dessas regiões de tonalidade amarelada (Foto 9D).

Este alelo determinava a pelagem dos cavalos selvagens da Mongólia (raça Pzerwalsky), mas essa raça entrou em extinção e com ela desapareceu. e pescoço, sendo o alelo a+ também aa Ausência de clareamento.


2.4 Genes da Série D (Dilution)

D,d

A ação do alelo dominante (D), desta série, é provocar diluição na tonalidade da
pelagem, agindo na intensidade de produção e distribuição do pigmento produzido. Assim, animais que possuírem esse alelo na forma dominante (D) terão menor produção de pigmento melânieo. Seu efeito é somativo, ou seja, na forma dominante homozigota (DD) haverá menor produção de pigmento que na forma dominante heterozigota (Dd).
A combinação dos alelos desta série com os genótipos até agora apresentados trará como conseqüência os seguintes fenótipos e genótipos:





A literatura admite a possibilidade do alelo D só se manifestar no fenótipo dos eqüinos (cavalos e éguas) que tiverem o A no genótipo. Essa hipótese explica a ocorrência da pelagem Pêlo de Rato apenas nos asininos (jumentos) e muares (burros e mulas).

2.5 Genes da Série E_ (Extension)

E, e, ED

O alelo E é um fator de extensão, e determina que o pigmento produzido seja uniformemente distribuído em toda extensão do corpo. Sua ação é antagônica à do alelo A, pois este determina clareamento em regiões específicas e aquele, que o animal seja uniformemente pigmentado. Portanto, o E é hipostático sobre o A, ou seja, na presença do A ele não se manifesta no fenótipo do animal. O eqüino poderá ser portador do E e conseqüentemente transmiti-lo à prole, mas não saberemos identificar a presença desse alelo no seu genótipo pela observação de sua pelagem.
O alelo recessivo (e) restringe a distribuição do pigmento na cabeça. Nas demais regiões do corpo, alguns pigmentos pretos tornam-se vermelhos e os vermelhos passam a ter tonalidade amarelada.
Como exemplo da ação de E e e nos genótipos e fenótipos já conhecidos, temos:

O alelo ED é um mutante da série E. Sua ação é produzir superabundância de pigmento, que será uniformemente distribuído por toda extensão do corpo. Tem efeito epistático sobre A, ou seja, na sua presença o A não se manifesta. Assim, no acasalamento de animais de pelagem preta comum, oriundos do genótipo aaB_E_ poderá ocorrer nascimento de potros de pelagem preta ou alazã. No entanto, quando os reprodutores pretos forem portadores do alelo ED (preta azeviche), pode-se esperar desse acasalamento a ocorrência também da pelagem castanha. O preto (B ED poderá carrear o alelo A sem que este se manifeste no fenótipo. Os portadores do E possuem intensa pigmentação na pelagem e seu efeito traz como conseqüência as seguintes variedades:



2.6 Genes da Série G (Gray)

O alelo dominante da série G é responsável pela pelagem tordilha (Foto 13A). Quando acontece na forma homozigota (GG) ou heterozigota (Gg) em qualquer dos genotipos, já estudados ou que ainda serão citados, o animal nascerá com a pelagem determinada por esse genótipo e terá aparecimento gradativo de pêlos brancos até se tornar completamente branco.

A ação do G é impedir que o pigmento produzido pelo melanócito (célula produtora da melanina) seja distribuído para o pêlo. Esse pigmento se acumulará dentro da célula e migrará para as extremidades do corpo. Em conseqüência desse acúmulo gradativo de pigmento nas células das extremidades, alguns autores sugerem que o gene da pelagem tordilha (G) predisponha a uma patologia denominada “melanose”. Essa suspeita, entretanto, ainda não teve comprovação científica.

Outra particularidade deste alelo é seu efeito somativo, ou seja, na forma homozigota (GG), o clareamento da pelagem será mais rápido que na forma heterozigota (Gg).É importante ressaltar também que o G é um gene epistático sobre todos os outros, ou seja, sempre vai se manifestar no fenótipo quando estiver presente no genótipo, levando a um clareamento gradativo da pelagem, e nunca será mascarado por nenhum outro gene. Então, um animal para ser tordilho terá, obrigatoriamente, um de seus pais também tordilho.

Na seleção para a pelagem tordilha é fundamental considerar os seguintes aspectos:
O animal com o genótipo GG clareará mais rapidamente do que o de genótipo Gg.
Do acasalamento de dois reprodutores tordilhos com clareamento rápido, tem-se 100% da progênie também de pelagem tordilha.

GG x GG =100% Tordilhos

Do acasalamento de dois reprodutores tordilhos de clareamento lento, 75% dos potros nascerão de pelagem tordilha.


Gg x Gg =
25% GG (Tordilhos)
50% Gg (Tordilhos)
25% gg (outra pelagem)

Do acasalamento de um animal tordilho de clareamento rápido com outro de qualquer outra pelagem, 100% dos produtos serão de pelagem tordilha de clareamento lento.
GG x gg
100% Gg (Tordilho)

Do acasalamento de um animal tordilho de clareamento lento com outro de qualquer outra pelagem, 50% dos potros serão também de pelagem tordilha.

Gg x gg
50% Gg (Tordilho)
50% gg (outra pelagem)

Por seu efeito epistático, sempre que o alelo G estiver presente no genótipo, o animal será de pelagem tordilha e, portanto, um eqüino de pelagem tordilha terá, obrigatoriamente, um de seus pais também depelagem tordilha.

Deve-se evitar seleção para animais tordilhos de clareamento rápido (GG), pela suspeita da predisposição à melanose, pois esses animais terão excesso de pigmento acumulado nas extremidades muito precocemente.

2.7 Genes da Série LP (Leopard)

Alelos: LP, lp

A pelagem apalusa (Foto 18A) é resultante do alelo dominante LP nas formas homozigota ou heterozigota (LPLP / LPlp). A genética dessa pelagem ainda não está bem esclarecida. Parece haver mais de um par de genes envolvidos na sua expressão fenotípica. Talvez os pares LPLP LPlp determinem as malhas brancas e outro alelo (ainda não conhecido) seja responsável pela presença ou não das pintas existentes nessas malhas. O tamanho das pintas é determinado por genes modificadores.

O modo de ação dos genótipos da pelagem apalusa parece influenciado pelo sexo, pois existem citações de que nos machos a expressão fenotípica ocorreria quando o alelo LP se encontrasse em homozigose (LPLP) ou em heterozigoze (LPLp), mas nas fêmeas o padrão apalusa obrigatoriamente seria ocasionado pela presença do alelo LP na forma dominante homozigota (LPLP). Se isso for verdade, eqüinos de pelagem apalusa podem ser filhos de pais não apalusa. As mães poderiam
carrear o alelo LP na forma heterozigota (LPlp) em seu genótipo (este não estaria se manifestando em seu fenótipo) e conseqüentemente transmiti-lo à prole. De acordo com Sponenberg (1996), os animais de qualquer pelagem que apresentarem pintas despigmentadas no focinho e nos genitais, branco da esclerotica visível (Foto 18D) e cascos mesclados podem ter filhos de pelagem apalusa.

A literatura cita também que o LP parece ter efeito somativo, ou seja, nos animais homozigotos (LPLP) a manta característica da pelagem apalusa atingiria maior
extensão do tronco (Fotos 18B, 18B3) e nos heterozigotos (LPlp) ficaria limitada apenas à região da garupa (Foto 18A). Então, se as fêmeas apalusas forem realmente homozigotas (LPLP), sempre apresentarão manta invadindo as outras regiões do tronco, ou seja, não encontraríamos fêmeas apalusas com manta limitada apenas à região da garupa.

A pelagem persa (Foto 19A) é considerada geneticamente, pela maioria dos autores
como uma variedade da apalusa e, portanto, nos acasalamentos de animais apalusas
é possível obter produtos de pelagem persa.

2.8 Genes da Série M (Markings)

Alelos: M, m

Os genes responsáveis pelo aparecimento das particularidades das pelagens (calçamentos, estrela, cordão etc.) têm sido amplamente estudados e os autores divergem quanto à letra a ser utilizada para sua designação. Neste estudo vamos chamá-los de “Genes da Série M”.

O assunto é bastante complexo, mas na seleção para animais sem particularidades teremos que considerar os seguintes aspectos:

- O gene para particularidades de pelagem (calçamentos e particularidades de cabeça) é recessivo (mm).

- Na seleção para animais sem particularidades, seria necessário eliminar do rebanho todos os animais que apresentassem particularidades.

mm x mm = 100% mm
(Animais com particularidades na pelagem)

- Na seleção para animais sem particularidades, seria necessária a eliminação do rebanho de todos os reprodutores, machos e fêmeas, que tivessem filhos com particularidades.

Mm X Mm =
25% MM (sem particularidades)
50% Mm (sem particularidades)
25% mm (com particularidades)

Sempre que o animal tiver particularidades nos membros terá também algum sinal
na cabeça, pois existe associação entre calçamento e algumas particularidades de cabeça.

- Sempre que o animal tiver particularidades nos membros terá também algum sinal Parece haver sinais de cabeça com herança independente da dos membros.

- Sempre que o animal tiver particularidades nos membros terá também algum sinal Tamanho e forma das particularidades de membros e cabeça são ocasionados por genes modificadores independentes.


2.9 Genes da Série O (Overo)

Alelos: O, o

Nesta série o alelo 0, na forma heterozigota dominante (Oo), é responsável pelo aparecimento de malhas brancas na pelagem. Essas malhas se confundem com o restante da pelagem e não são bem delimitadas como acontece na pampa. As áreas brancas apresentam contorno irregular e incluem grande parte (ou a totalidade) da cabeça, podem atingir as faces laterais do pescoço, costados, ventre e flancos, porém nunca cruzam a linha dorsal. Na maioria dos cavalos, a área pigmentada é mais extensa que a branca, sendo pelo menos um dos membros pigmentados e a cauda normalmente é unicolor. Esse conjunto de características, provocadas pelo genótipo Oo, caracteriza a pelagem conhecida como Oveira (Foto 20A).

Quando em homozigoze dominante (00) provoca a síndrome letal do “potro branco”. Esses potros nascem saudáveis, são completamente brancos, com olhos azulados e morrem no máximo 3 dias após o nascimento, em conseqüência de uma extensa (30cm) constrição no intestino que não permite a eliminação das fezes (aglanglionose ileocólica). A seleção para pelagem Oveira deve ser evitada para prevenir a ocorrência dessa síndrome no rebanho, pois o acasalamento de dois animais de pelagem Oveira terá 25% de chance de nascer potros com aglanglionose ileocólica.
O alelo recessivo na forma homozigota (oo) caracteriza a pelagem uniforme determinada pelo restante do genótipo.


2.10 Genes da Série P (Paint)

Alelos: P, p

Também conhecido como To (Tobiano), o alelo P dominante determina ausência de produção da melanina em diversas áreas do corpo e, como conseqüência, o animal apresentará malhas brancas despigmentadas, caracterizando a pelagem Pampa. O recessivo p determinará pelagem uniforme.

O tamanho e a forma das malhas da pelagem Pampa são determinados por genes modificadores, mas deve-se considerar que o alelo P também tem efeito somativo, ou seja, sua presença no genótipo na forma homozigota (PP) determina maior extensão de malhas brancas na pelagem (Fotos 17A, 17B, 17C, 17D) que a forma heterozigota (Pp) (Fotosl7Al, 17B1, 17C1, 17C2, 17E).

Na seleção para pelagem Pampa é importante considerar:

Para que um potro tenha pelagem Pampa, um de seus pais deverá ser também de pelagem Pampa.

O gene P tem efeito somativo e portanto no cruzamento entre pampas os produtos (PP) tendem a nascer com maior proporção de malhas brancas.

O acasalamento de dois reprodutores de pelagem pampa com grande extensão de malhas brancas (PP) não é aconselhável, pela possibilidade do nascimento de animais com grande deficiência de pigmentação (pseudo-albinos) no plantel.

A ocorrência de olhos com íris branca, cinza ou azulada (albinóide) está altamente associada à pelagem chamada “pampa de baixd’ (malhas brancas na região ventral, anal e peitoral).

Os animais bragados de qualquer pelagem podem ter filhos de pelagem pampa pois na realidade as bragas acontecem pela presença do alelo P no genótipo de qualquer pelagem.

2.11 Genes da Série R(Roan)

R,r

O alelo dominante desta série (R) é responsável pela pelagem Rosilha. Este gene, atuando sobre a cor base (qualquer outra pelagem), determina que o animal apresente interpolação de pêlos brancos e pêlos pigmentados disseminados pelo corpo, sem caráter invasivo nem evolutivo. A proporção de pêlos brancos é maior no pescoço e tronco que na cabeça e extremidades dos membros, os quais se destacam
por uma tonalidade mais escura.

O portador do alelo R diferencia-se daqueles que tem o G, pois sua ação faz com que o potro, já ao nascimento, apresente interpolação de pêlos brancos no pescoço e tronco. Na pelagem tordilha, o branqueamento é progressivo e a interpolação de pêlos brancos ocorre em toda a extensão do corpo, inclusive na cabeça. Podem haver casos de potros que nascem Rosilhos e apresentam um branqueamento gradativo. Essa situação acontece quando, além do R, ocorre também o G (epistático) no genótipo do animal.

A expressão desse gene ainda não está totalmente esclarecida, existindo, por exemplo, informações contraditórias sobre seu efeito letal embrionário, quando em homozigose dominante (Caldeira & Portas, 1999) e sobre sua condição de epistasia, pois Bowling
(1997) citou que o animal rosilho não terá necessariamente de ter um dos pais também depelagem rosilha.

A ação do R nos fenótipos mais conhecidos dará as seguintes pelagens:



2.12 Genes da Série W (White)

W,w

O W dominante é responsável pela pelagem branca. Tem característica de epistasia, ou seja, mascara o efeito de todos os outros genes que já foram mencionados. Seu alelo recessivo w permite a manifestação do restante do genótipo. Os cavalos brancos ocasionados pelo alelo W apresentam pêlos brancos, olhos azulados, castanhos ou amarelados e apenas algumas áreas do corpo pigmentadas. Esses indivíduos são sempre heterozigotos (Ww). Os fetos portadores do genótipo WW são reabsorvidos ou abortados. Essa combinação gênica leva à deficiência de assimilação do cobre e o feto morre de anemia, em conseqüência da importante função desse mineral na formação da hemoglobina.

Conclusão

Os cavalos originais selvagens provavelmente tinham cores dominantes com somente um mutante ocasional mostrando um padrão de branco. Se o homem inicial era algo semelhante ao atual, ele admirava as criaturas que mostravam cores diferentes. Após a domesticação, muito do processo de seleção provavelmente foi baseado na cor da pelagem. Alguns dos conceitos mais iniciais do Homem quanto a herança surgiram a partir das observações da transmissão da cor nos cavalos.
Atualmente, o comprador em geral deseja pagar um preço fantástico por um cavalo com as marcas de cor do seu agrado. Devido a este fato, diversos registros de cor foram desenvolvidos: o albino, palomino, Buckskin, paint, pinto, appaloosa e outros. Isto fez com que um grande numero de criadores de cavalos baseasse todo o seu programa de criação em relação a coloração da pelagem.
Na raça Mangalarga Marchador por exemplo, no Brasil, há uma preferência pelas pelagens Negras e Escuras (Castanhas) atualmente; por ser a pelagem Tordilha (pelagem mais comum nesta raça) uma pelagem que pode originar a todas as outras, o criador pode direcionar a pelagem que quer ao seu criatório.
É por isso, que é interessante para criadores o conhecimento genético da pelagens, podendo assim direcionar sua criação visando uma pelagem favorita ou que possua bom valor comercial e fácil comercialização.
Cristiano Rubim Sousa
Humberto Rubim Sousa

Bibliografia

JONES, Willliam E., Genética e Criação de Cavalos; São Paulo. Roca, 1987

REZENDE, Aldalgiza Souza Carneiro de, Pelagens dos eqüinos; Belo Horizonte,
FEP-MVZ Editora, 2001

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Carta Sugestão ABCCRM


São Paulo, 5 de maio de 2008

Ao Sr. Presidente Mario Barbosa, á Diretoria e a quem mais interessar, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga.

Ref: Sugestão, missão, propósitos e rumos da raça Mangalarga.

Resolvi detalhar-me em minha sugestão, pois penso tratar-se de tema extremamente relevante. Sou engenheiro agrônomo e recentemente me tornei sócio desta honrosa associação. Como amante e micro criador entusiasmado, venho acompanhando os percalços da nossa raça de perto a três anos e estudado o tema com dedicação. Pelo que vi, tivemos nestes últimos anos, avanços tremendos na morfologia, e estamos numa fase de resgate do andamento, muito bem sucedida, de modo que hoje podemos ver o Mangalarga como uma raça com “bio-tipo” e características realmente consolidadas. No entanto, apesar de toda maturidade da raça e toda estabilidade da economia brasileira, noto uma séria falta de mercado para comercialização de nossos cavalos e como conseqüência uma séria debandada de criadores para fora do negócio do cavalo. Nem todos têm o privilégio de poder criar cavalos como um “hobby”, e o que temos assistido é a permanência de, apenas, criadores que em ultima instancia não visam lucro ou sustentabilidade financeira em suas criações. Os leilões são poucos, com médias baixas e comercializações duvidosas, tenho acompanhando cavalos serem vendidos em dois ou três leilões no mesmo ano pelo mesmo proprietário e supostamente todas às vezes serem “arrematados”. Tentativas artificiais de elevação de preços não se sustentam no médio prazo (premissa econômica básica!), e o desespero para “desova” de produtos leva uma depreciação de plantéis, perda de credibilidade em relação aos criadores, e uma descrença crescente no que diz respeito a novos integrantes da raça. Falo por experiência própria.
Venho por meio desta por em pratica o lema: - “Uma associação tem o tamanho que os seus associados querem dar a ela”. E por isso venho dar a minha sugestão para mudar esse quadro.
Em estudo* pioneiro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), através da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), desvendaram a “cortina” dos palpites e mensuraram com bastante precisão, o tamanho e as características do agronegócio cavalo, no Brasil.
Veja alguns dados:
Resumo de contribuições dos diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil
Segmento
Movimentação Econômica (R$)
Percentual(%)

Medicamentos Veterinários
54.142.630,20
0,74

Rações
53.440.000,00
0,73

Selaria
174.600.000,00
2,38

Casqueamento e Ferrageamento
143.640.000,00
1,96

Transporte de Eqüinos
86.400.000,00
1,18

Senar
976.000,00
0,01

Mídia
10.000.000,00
0,14

Militar
176.000.000,00
2,4

Lida
3.954.275.000,00
54%

Equoterapia
43.200.000,00
0,59

Hipismo
57.600.000,00
0,79

Pólo
1.684.400,00
0,02

Vaquejada
164.000.000,00
2,24

Turismo Eqüestre
21.000.000,00
0,29%

Escolas de Equitação
78.000.000,00
1,06

Jockey
359.500.000,00
4,91

Trote
1.000.000,00
0,01

Exposições e Eventos
146.100.000,00
1,99

Segmento "Consumidor"
1.654.400.000,00
22,6

Leilões
19.100.000,00
0,26

Exp. e Imp. De Cavalos Vivos
8.833.623,68
0,12

Carne
80.000.000,00
1,09

Curtume
15.000.000,00
0,2

Seguro
2.500.000,00
0,03

Veterinários
20.000.000,00
0,27

Total
7.325.391.653,88
100

Tabela Adaptada – Fonte: CEPEA 2006
Na página vinte, é mostrado que “ A análise dos dados entre 1990 e 2003(fig 6) indica que a tropa deslocou-se em direção as regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está passando por um processo de desconcentração.”
Não só desconcentração, mas o que tudo indica, já com esses primeiros dados, é que a tropa de cavalos acompanha diretamente as fronteiras de expansão pecuária do país.
Mais adiante (pág. 22) é mostrada uma correlação entre quantidade de rebanhos em 5558 municípios, em 2004(Fonte: IBGE-2006), e nota-se uma alta correlação entre o eqüino e o bovino (0,744; ao passo que eqüinos e outros gira entre -0,05 à 0,4). Mais ainda, o índice de correlação de crescimento dos dois rebanhos chega a 0,867; segundo este mesmo estudo.
Não bastasse, ainda é concluído pelo artigo: - “...existe uma sobre utilização dos animais de montaria(tabela 5), sugerindo que há potencial técnico para elevar a quantidade de eqüinos para lida”.
É notória a pujança do mundo dos rodeios (não avaliada neste estudo) e aguda, a expansão dos esportes com lida de gado. Não é a toa que a única associação que destoa em números superlativos, é a de criadores de Quarto - de - Milha, que levaram seu pequeno corredor de curtas distancias a se tornar um ícone para vaqueiros e “cowboys”.
No Brasil só há cavalos, onde há bois!
Á fora jóqueis, escolas hípicas, pólo, exercito e outras utilizações pouco apropriadas ao Mangalarga e pouco representativas, por mais incrível que pareça, no compito geral do complexo agronegócio cavalo, o que gera mercado e divisas para o negócio é a pecuária e tudo que gira em torno dela.
Nosso cavalo já nasceu vaqueiro, estamos insistindo em elitiza-lo, urbanizá-lo e estamos perdendo grande parte de suas características.
Versatilidade, rusticidade e principalmente, popularidade.
Competimos, atualmente, em um segmento, já restrito, (turismo rural e passeios) com raças muito mais tradicionais que a nossa, como o Puro Sangue Lusitano, e com muito mais apelo popular, como o Campolina ou o Mangalarga Marchador, e renegamos a segundo plano a grande vocação do nosso cavalo, a lida no campo e tudo que a relaciona.
Proponho um resgate destas antigas vocações.
Proponho uma reintrodução do nosso cavalo a cultura e ao dia-a-dia das fazendas e fazendeiros. Foi assim que o Mangalarga ganhou fama e é assim que ele foi idealizado a mais de um século.
Esta dada a sugestão!
Atenciosamente, Luiz Alberto Patriota

*Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil CEPEA/Esalq – Brasília:CNA;MAPA, 2006

Mangalarga - História e Origens


O CAVALO MANGALARGA –

SUA HISTÓRIA E SUAS ORIGENS


(...)“A origem da raça Mangalarga é um tanto controversa. Em verdade, como a história começou há quase três séculos, muitas lendas se criaram e hoje se torna difícil apontar o fato mais correto.

Todas as estórias, no entanto, têm como personagem central o Barão de Alfenas, que assim aparece sempre como o "pai da raça".

Segundo alguns antigos criadores a raça teria se originado no Estado de São Paulo, porém esta verdade parece ser a menos provável, já que muito antes de ser conhecido neste estado já se falava no Sul de Minas Gerais, de um cavalo grande e de boa marcha.

Para Severino Junqueira de Andrade, que cita narrativas feitas pelo Barão de Alfenas a seu avô, Francisco de Andrade Junqueira ("Chiquinho do Cafundó), filho caçula do Barão, a raça e o nome Mangalarga teriam se originado numa das inúmeras viagens realizadas pelo Barão de Alfenas ao interior de Minas Gerais. Certa vez, passando por Vila Rica (hoje Ouro Preto), o Barão de Alfenas teria pernoitado na fazenda de um seu amigo, que lhe teria vendido um potro de excepcional qualidade, que bem aproveitado e desenvolvido gerou a semente da Raça Mangalarga.

Outra versão, no entanto, é relatada por Geraldo Diniz Junqueira (Fazenda Boa Esperança - Orlândia-SP), um baluarte da equinocultura nacional.

Segundo ele, o nome Mangalarga deriva de uma fazenda com este nome que existia no município de Paty do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro. Numa ocasião, quando o Barão de Alfenas era ainda um deputado da Corte Imperial, um seu colega de Câmara o convidou para uma visita a esta fazenda, para que conhecesse alguns cavalos de rara qualidade. Durante a visita, o Barão de Alfenas teria dito que, embora os animais existentes na Fazenda Mangalarga fossem realmente de boa qualidade, em sua propriedade no Sul de Minas (a Fazenda Campo Alegre), existiam animais superiores àqueles.

Desta forma, foi marcada uma visita à fazenda do Barão para que se conhecesse seus cavalos. Assim, seu colega deputado, ao conhecer o plantel do Barão teria ficado empolgado e adquirido alguns animais que foram levados à Fazenda Mangalarga no Estado do Rio de Janeiro.

Esses animais ficaram por demais conhecidos nos passeios nas praias do Rio de Janeiro e, logo em seguida, começaram a aparecer no Sul de Minas comerciantes interessados em adquirir animais iguais aos da Fazenda Mangalarga, daí ter se originado o nome.


O MANGALARGA PAULISTA E O MINEIRO

Para a maioria dos criadores a diferença entre o Mangalarga paulista e o Mineiro foi adquirida através de um intenso processo de seleção. Segundo narram alguns historiadores desta raça, inicialmente o cavalo Mangalarga servia como meio rápido de transporte, além de possuir grande resistência. No entanto, a marcha deste animal teria se caracterizado pelos constantes exercícios de caçadas que se faziam no Sul de Minas.

Segundo explica Geraldo Diniz Junqueira, "a caçada naquelas épocas não tinha como finalidade matar o animal. O interesse era acompanhar a caça, enquanto o caçador acompanhava tudo ao lombo do cavalo". No Sul de Minas, portanto a caçada era feita em região de topografia montanhosa. O caçador podia acompanhar a caçada à distância, parado no alto de um morro. Isto, de certa forma, não exigia que o animal acompanhasse a caça seguidamente.

Quando, porém, o cavalo foi transportado para o norte do Estado de São Paulo, encontrou ali uma região de topografia diferente, plana, caracterizada por uma vegetação de cerrado. Nesta região, para sentir a caça, o caçador tinha que acompanhá-la seguidamente, pois, caso contrário, praticamente não veria nada.

O cavalo passou então a acompanhar a caça, exigindo-se dele maior velocidade.

Começou aí, segundo consta, a diferenciação dos Mangalargas Mineiro e Paulista: o Mineiro mais marchador e o Paulista mais trotador.


OS PRIMEIROS CRIADORES E OS PRIMEIROS RAÇADORES

Como já vimos anteriormente, o Barão de Alfenas, que tinha o nome de Gabriel Francisco Junqueira, é conhecido como o "pai da Raça Mangalarga" e é seu primeiro grande criador.

A história, no entanto, começa a se desenvolver de forma mais intensa à partir de 1812, quando um sobrinho do Barão de Alfenas - Francisco Antônio Diniz Junqueira, muda-se para a Fazenda Invernada no município de São Bom Jesus da Cana Verde, hoje conhecido como Batatais, no interior do Estado de São Paulo.

Segundo relatos da família, Francisco Antônio trouxera para a Fazenda Invernada um lote de cavalos do Sul de Minas, que teriam formado a base atual do Mangalarga Paulista. Do lote de cavalos trazidos por Francisco Antônio destacavam-se os animais de nome: Sublime e Fortuna.

O cavalo Sublime, apesar de importância para a raça, não deixou descendência masculina, tendo, porém, deixado uma gama excepcional de fêmeas, que proporcionaram sem sombra de dúvidas, o desenvolvimento do plantel.

Já o animal de nome Fortuna, no testamento de partilha de Francisco Antônio Diniz Junqueira, foi citado através de um pedido de um de seus principais herdeiros que exigiu que em sua parte constasse uma égua parida de um potro filho de Fortuna. Este herdeiro, segundo narra a história, seria Antonio Bernardino Franco, e o potro, segundo a genealogia conhecida, seria o Fortuna II. Este fato teria ocorrido por volta de 1847.
Retornando à história de Francisco Antônio, este teve dois filhos homens, pois, Antonio Bernardino Franco era seu genro. Os nomes dos filhos de Francisco eram: João Francisco Diniz Junqueira e Francisco Marcolino Diniz Junqueira ("Capitão Chico").

João Francisco desenvolveu a raça através da linhagem feminina do animal Sublime, da qual a última filha de Sublime, Pretinha, era muito admirada e cobiçada, sendo constantemente visitada pro criadores e curiosos. Ainda de Pretinha, se tem conhecimento que foi mãe do raçador Rio Branco, que tinha como pai, o velho Telegrama.

TELEGRAMA
/
RIO BRANCO
(1868) \ PRETINHA - SUBLIME

João Francisco Diniz Junqueira continuava o desenvolvimento da raça e outro importante
animal que marcou sua criação foi o garanhão Cinza, que foi pai da égua Penitência, que por sua vez é avó materna e bisavó paterna do notável raçador Colorado.

Se João Francisco teve importância no aprimoramento da raça, foi com outro filho de Francisco Antonio, o Francisco Marcolino ("Capitão Chico") que começaram a surgir os grandes raçadores. O principal cavalo do Capitão Chico tinha o nome de Baio Escuro, sendo filho do Fortuna III, e este filho do Fortuna II.

/ Monte Negro (por Lontra, filha de Jóia da Chamusca x Alazã Velha, por Alazão Velho)
Fortuna I - Fortuna II - Fortuna III - Baio Escuro /
\ Sublime do Baio Escuro

Baio Escuro gerou como filhos os raçadores Monte Negro e Sublime do Baio Escuro, sendo Monte Negro o avô materno e bisavô paterno do pilar Colorado.

Outro animal de destaque na criação do Capitão Chico foi o velho Telegrama, que teria sido adquirido no Sul de Minas do primo Francisco de Andrade Junqueira ("Chiquinho do Cafundó” - filho caçula do Barão de Alfenas, no município de Cristina-MG).

Já adentrávamos o ano de 1868, quando o velho Telegrama teve como filho o animal Rio Branco, que posteriormente viria a ser pai do ´chefe de raça´ Índio, o qual tem hoje enorme influência na raça Mangalarga, em quase todos os criatórios.





EMPRESTANDO UM CAMPEÃO


Naquela época ainda não existiam os grandes campeonatos das raças, mas o garanhão Jóia da Chamusca, que viveu até o ano de 1854, certamente seria um campeão se fosse feito um concurso naqueles tempos. Este notável raçador também foi utilizado pelo Capitão Chico, que por duas vezes o tomara emprestado ao criador João Alves Gouveia, proprietário da Fazenda Chamusca, no município de Cachoeira dos Ratos, Estado de Minas Gerais.

Jóia da Chamusca teve como filhos o garanhão Cinza(já citado anteriormente), Jóia do Andrade (ascendente masculino direto da famosíssima égua Faluá) e Joião, que posteriormente seria pai da matriz Jóia. Esta, por sua vez, seria mãe dos consagrados reprodutores Índio, Jupiter e Japão.

CINZA
/
JÓIA DA CHAMUSCA - JÓIA DO ANDRADE - FALUÁ
\
JOIÃO - JÓIA (matriz) - ÍNDIO (por Rio Branco)
\ JUPITER
\ JAPÃO

Das filhas de destaque de Jóia da Chamusca, podem ser citadas Lontra e Manchada, sendo que Lontra foi mãe de Monte Negro (já citado), Maine e Plutão.

Mas o Capitão Chico continuou desenvolvendo sua criação e por volta de 1845 teve em seu plantel outro importante ‘chefe de raça’ : o Alazão Velho (ascendente através de sua filha Alazã Velha, das éguas Lontra e Manchada- estas duas ascendentes de quase todos os atuais animais da Raça Mangalarga.


OUTRO CAPÍTULO, OUTRO CRIADOR

O tempo passava e enquanto o Capitão Chico trabalhava para melhorar a raça, outros criadores também se empenhavam em melhorar seus plantéis.

Quase na mesma época do Capitão Chico, talvez um pouco antes, surgia José Frausino Junqueira, irmão de Francisco Antônio, então proprietário da Fazenda do Favacho no Sul de Minas Gerais. José Frausino teve como principais animais de seu plantel os afamados Fortuna III (pai do Baio Escuro) e Gregório, este pelos idos de 1826. Gregório foi o pai do Manco do Favacho, que por sua vez foi pai dos famosos raçadores Cisne e Queimado.

Cisne foi ascendente por linhagem masculina direta da égua Fantasia, mãe dos conhecidos Minuta e Pensamento.

Queimado foi pai de Castanho, que posteriormente viria a ser pai da extraordinária matriz Pitanga. Esta última geraria Penitência Castanha, que marcaria sua presença na raça como mãe de Fortuna IV e da já citada égua Jóia. Ainda sobre o animal Queimado, sabese-se que foi vendido ao conhecido personagem da história do Brasil, Alferes João Caetano.


DE NOVO COM O BARÃO DE ALFENAS

Como já dissemos, o Barão de Alfenas é conhecido como "o pai da raça", mas no entanto seus cavalos só passaram a ser conhecidos através de seus filhos, 'Chiquinho do Cafundó' - criador do semental Telegrama, e Antonio Gabriel Andrade, criador do’chefe de raça’ Rosilho, também conhecido como Abismo.

Como já houvéramos falado sobre Telegrama, vamos discorrer sobre Rosilho(ou Abismo), que foi ascendente direto, por linha masculina, do conhecido reprodutor Bellini JB, de criação e propriedade de Urbano Xavier de Andrade (Fazenda Campo Lindo-Cruzília). Este soberbo animal, Bellini, através de seus filhos: Rádio, Mozart, Submarino, Ouro Preto, Brasil, Bolivar, Calçado, Pégaso e Clemanceau I, tem larga influência nos cavalos Mangalarga, das criações do Sul de Minas e, principalmente, em toda raça Mangalarga Marchador.


OS FILHOS DO CAPITÃO CHICO

Ao longo da história, tal como o pai o fizera, também os filhos do Capitão Chico se destacaram na criação do Mangalarga.

Antonio Olinto Diniz Junqueira foi criador do famoso cavalo Óder, pai de Botafogo 53, campeão no Rio de Janeiro e de propriedade de Renato Junqueira Netto, com grande influência na Linhagem 53.

Além de Óder, outro animal famoso da criação de Olinto foi Calçado Zaino, pai de Moita, que por sua vez foi pai do conhecidíssimo animal Bordado, de propriedade do Sr. Sebastião de Almeida Prado. As linhagens femininas de criação do Sr. Antonio Olinto vieram a se constituir no arcabouço da criação do Sr. Sebastião.

Outro filho do Capitão Chico foi o Cel. Francisco Orlando, que sem dúvida tem grande destaque por ter sido o criador do pilar Colorado. Cavalo de extraordinária qualidade que marcou para sempre a história da criação do Mangalarga, Colorado nasceu em 1912, alazão bronzeado, daí a razão de seu nome. Animal de grande porte, ágil, de marcha trotada, tinha como pais o famoso Fortuna V e a égua Prenda. Em 1920 sagrou-se Campeão Nacional na exposição realizada no Rio de Janeiro e morreu no início de 1932, após ter tido vários filhos consagrados.

Colorado foi um raçador tão singular que, até a prevalência da cor alazã no Mangalarga atual, deve-se a ele, de vez que até então dominavam o castanho e o tordilho. O próprio Colorado era filho de um garanhão castanho, o Fortuna V, e de uma égua tordilha, a Prenda, sendo que a carga genética que lhe trouxe aquela pelagem caminhou encoberta por seis gerações por vias masculinas e cinco gerações por vias femininas, vindo de um mesmo ancestral comum, a égua Alazã Velha- animal de tão marcante influência que pode ser comparada a uma da Royal Mares do Puro Sangue Inglês.

Segundo narra Geraldo Diniz Junqueira, é sabido que o Cel. Francisco Orlando teria dito em 1911:
"- Vou mandar uma égua para ser coberta pelo cavalo do Magino e duvido e desafio o Fortuna a reproduzir outro filho igual, pois o meu vai ser o melhor cavalo da raça".

Esta frase teria sido dita pelo Cel. Francisco Orlando ao enviar sua égua favorita Prenda, para ser padreada pelo cavalo Fortuna V, de seu irmão Magino Junqueira.

MONTE NEGRO - FORTUNA IV - FORTUNA V - COLORADO (1912-1932)
/
PRENDA /

E o êxito do cruzamento, com o nascimento de Colorado, não fora um acaso, pois Francisco Orlando era um profundo conhecedor de cavalos, tendo viajado até mesmo pela Europa, de onde conheceu e importou animais de outras raças, próprias para a sela. Colorado foi assim, a obra-prima de um criador que, a partir de animais que recebera de seus pais, fez deles um valioso e inigualável plantel.

OUTROS CRIOULOS DE FRANCISCO ORLANDO E A INFLUÊNCIA DE COLORADO NA RAÇA MANGALARGA

O Cel. Francisco Orlando, além de Colorado, teve outros crioulos importantes, como:

- Campeão : pai de Faveiro, que produziu Invasor, campeão da raça e iniciador de uma das mais importantes linhagens do moderno Mangalarga, tendo gerado a Fogo, que gerou a Enigma e Comanche RN, que por duas vezes consecutivas venceu a prova funcional para garanhões da raça.

- Montenegro : pai de Fortuna IV, que produziu Fortuna V, o pai do próprio Colorado.

- Suco : pai de Tank, que produziu Bordado, que gerando a Capitel, deu início à linhagem criada pelo Sr. Sebastião de Almeida Prado e seus seguidores.

- Coração : pai de Faluá, extraordinária matriz que produziu 3 importantes ´chefes de raça’: Astuto, Kaiser e Sulamericano.

- Vae Vem : pai de Caipira, Chinesa, Redonda, Chata e Vae Vem do Agudo, todos de larga influência na Criação 53.

- Brinco : pai de Chata, mãe de Faveiro e de Cabeção (mãe de Legítimo), o primeiro da maior importância ma criação de São João da Boa Vista e a segunda na criação do Sr. Floriano Esteves Martins ('Flori') e seus seguidores.

- E criou também Francisco Orlando, e isto é importante saber, o semental Índio, por Rio Branco e Jóia Castanha, por Joião, verdadeiro iniciador da criação de Colina(SP), uma vez que foi pai de Aventureiro, animal que exerceu total influência na Criação 53, através de suas filhas e, principalmente, seu filho Apolo 53, que com seus descendentes diretos Lanceiro e Fuzileiro marcou definitivamente aquela criação, uma vez que este último gerou Lírio, que produziu Trevo, pai de Nitrato 53 que, segundo seus criadores, constitui o marco e o patrimônio principal da Criação 53 de nossos dias.

Além do que, Apolo 53 é ainda o fundador da linhagem que representa a criação do Sr. Antenor Junqueira Franco, por intermédio de seu filho Predileto; e influi de maneira significativa nos plantéis do Sul de Minas, portanto na raça Mangalarga Marchador, por intermédio de seu filho Armistício JF (oriundo da matriz Baia), nascido na Fazenda do Favacho.

O Cel. Francisco Orlando selecionou e criou também uma enorme quantidade de animais importantes como: Plutão, Trunfo, Bayard, Ímpio, Rápido Castanho, Tigre, Yacht, Júpiter, Biscoito, Jofre, Radium, Safster, Zape, Bar, Sahike, Trovão, Tenor, Maine, Viaduto, Linguiça II, Campeä, Colina, Gaúcha, Calçada, Prenda, Negrita, Porcelana, Castanha do Suco, Rapadura, Conquista, Náfega, Princesa, Faluá, Marquesa, Chamusca III, Fronteira, Chata, Orelha, Montanha, Lola, Taperá, Fantasia, Andorinha, Narceja, Colina I e Espada, que foram os elos, as malhas do tecido vivo que constitui a criação do Mangalarga moderno.

Isto, falando do criador Francisco Orlando, de seu famoso cavalo, o Colorado, o mínimo que se poderia dizer é que: exerceu tão grande influência, nos antigos e atuais plantéis, que hoje, praticamente toda a Raça Mangalarga dele descende, seja por linhagem masculina ou feminina.

A importância direta de Colorado pode ser avaliada pela simples citação de alguns de seus descendentes:

- Astuto (por Colorado x Faluá, filha de Coração), pai de Sheik;
- Pensamento (por Colorado x Fantasia, filha de Apolo), genearca que formou o tronco de Turbante JO;
- Campeão (por Colorado x Queimada, filha de Plutão), pai de Faveiro;
- Suco (por Colorado x Cigana II, filha de Kalifa), pai de Capitel;
- Sulamericano (por Colorado x Faluá, filha de Coração), pai de Yoyô;
- Burity (por Colorado x Princesa, filha de Castanhão), pai de Absintho;
- Legítimo (por Colorado x Cabeção, filha de Brinco), pai de Nero;
- Óder (por Colorado x Sentida, filha de Joião), pai de Botafogo 53.

Além destes, que imortalizaram Colorado como grande ‘chefe de raça’ nas linhagens masculinas, deixou outros filhos que se perpetuaram como pais de linhagens femininas importantes, a saber: Genuíno, Feitiço, Bismarck, Ímpio, Yankee e Dique.

Colorado deixaria ainda grande número de filhas, as quais são frequentes nos pedigrees dos melhores garanhões atuais: Mussurana, Doradilha II, Realesa, Baronesa, Ariranha, Bugrinha (mãe de Sultão e Caboclo). Minuta (mãe de Sheik), Canela, Dançarina, Rapadura, Querida II, Brasa, Luzitana, Savoia, Mascote, Florisbela, Negrita, Gaúcha, Jóia, Alazã, Sota, Mimosa (mãe de Galante), Imburana, Colina, Gazeta, Borboleta, Alemanha, Caninana, Alvorada, Valência, Porcelana ( mãe de Absintho e Invasor), Aleluia, Preta, Braceira, Bolacha, Labareda, e tantas outras....

Fazendo analogia com o Puro-Sangue Inglês, onde os descendentes de Eclipse ganham constantemente todos os Grandes Prêmios e Derbys, os descendentes de Colorado surgem como estrêlas nas Exposições Nacionais e provas funcionais, acentuando a importância de Colorado, o verdadeiro patriarca do Cavalo Mangalarga.

Estes foram os principais feitos de um cavalo que com suas qualidades e seu potencial genético, exaltou a obra de um homem, fundador de cidades - Orlândia(SP), que com o trabalho e visão ampla, colaborou decisivamente para o melhoramento de um importante setor da pecuária nacional.

JOSÉ FRAUZINO, OUTRO DESTAQUE

José Frauzino Junqueira Netto era neto de José Frausino do Favacho e genro do Capitão Chico. A ele também se deve um largo tributo pela seleção do cavalo Mangalarga. Seus crioulos mais conhecidos foram: Apolo 53, pai de Fuzileiro e Lanceiro, principais raçadores da linhagem masculina do plantel 53, bem como de Armistício JF, pai de Candidato JF na centenária Fazenda do Favacho; Predileto, importante semental do Sr. Antenor Junqueira Franco e que veio a exercer grande influência na criação do Sr. Badih Aidar e do Sr. João Francisco Diniz Junqueira, através das matrizes Blusa, Cabocla e Malat. Aliás, a égua Malat, avó de Batéia, tornou-se extremamente conhecida através de seus descendentes Whisky, Siriema, Regente, Nababo e Traviata, todos eles ascendentes de ‘chefes de raça’ atuais.
Por fim, outro grande feito de José Frauzino Junqueira Netto foi a criação do animal Fortuna IV, filho de Monte Negro e pai de Fortuna V, de propriedade do Sr. Magino Diniz Junqueira. Fortuna V, com já citamos, foi o pai do grande raçador Colorado.

AS NOVAS GERAÇÕES

O Mangalarga teve seu livro de registro criado em 1934. A partir de lá a genealogia dos principais animais é conhecida através dos pedigrees e do registro mantido na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga.

Na sua história mais remota, o Mangalarga tem sua origem no extraordinário cavalo da Península Ibérica, que cruzado com o que ali foi levado pelos mouros, deu origem ao Andaluz e ao Alter. Estes foram trazidos para as Américas e criaram a base do cavalo nacional. Com a vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, vieram também novos garanhões que foram levados à Coudelaria de Barbacena, em Minas Gerais e emprestados aos criadores da região. Estes garanhões melhoraram o rebanho nacional e criaram as seis linhagens básicas das quais descende o Mangalarga: Jóia da Chamusca - Telegrama - Gregório - Sublime - Rosilho (ou Abismo) e Fortuna.

Até o começo do Século XX estas linhagens masculinas se equivaliam. Nesta época surgiu o animal Colorado, determinando então o predomínio definitivo do grupo Fortuna.(...)”

Geraldo Diniz Junqueira - Fazenda Boa Esperança - Orlândia(SP) - 1999/2000

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Primeiras Matrizes - cont.


Torreblanca do PEC, montada por minha querida irmã. Essa matriz é uma filha de Monteblanco do PEC(Grande Campeão Nacional Cavalo Pampa) em Dunablanca do PEC(Égua com classificação Muito Boa, mãe de Lagoblanco do PEC - Grande Campeão Nacional na Associação de Cavalo Pampa), caracteriza-se pelo belo porte e pela extrema docilidade, critério básico de nossa seleção.

Primeiras Matrizes


Ao fundo, Escalada NLB, em sua apresentação na concorrida exposição de JAÚ 2008. Bela matriz, filha de Cristal da Jauaperi (Grande Campeão Nacional) em Mariana JO (Última filha de Turbante JO), promete muito na reprodução e reune todas as caracteristicas que buscamos no Mangalarga.

Blog Mangalarga

Fazia tempo que pensava em criar um espaço onde pudesse divulgar minha criação e algumas idéias que tenho sobre criação de Mangalargas e Agronomia de modo mais genérico. Aqui está! Nasce mais um espaço para apaixonados como eu pelo, "Cavalo de Sela Brasileiro". Grande abraço a todos. Luiz